quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Complexo das Borboletas

Tanto sonhar,
Tanto querer.
Espero.
Contemplar o vento a denunciar meus devaneios.

Penso metamorfose.
E ouço os risos do meu sono tocar o céu.
E procuro voar nas palavras
Enquanto choro a amargura de viver crisálidas.

Ver a felicidade por cima do meu juízo
E esculpir milhares de sorrisos vagando pelo ar.
Paralisando as vozes e os sentidos
Que bailam mansos distante desse universo.

Não distinguir o tédio de tranquilidade.
E querer paralisar o bucolismo em quadros.
E mergulhar num tempo onde não há relógios.
Sem traços, tampouco limites.
Pois para o poeta sonhador, só a arte de imaginar existe.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Inconstância.

Vejo-me em uma casa de espelhos. Tanto ego. Queria até poder beijar-me.
Mas faltam, faltam imagens. Faltam luzes, faltam pessoas, faltam as ruas.
Meus dedos longe das imagens; irreais, mas tão sinceras.
Enquanto vejo as mesmas imagens, tão sutis e tão cruéis.
Sinto que falta, falta beleza; e sobra, sobra monotonia.
Vivo a procura de novas cores, novas imagens; de novos olhos, de novos olhares.
Mas só vejo as mais ordinárias e belas imagens, que prolongam-se até o fim do meu céu.
E penso que serei sempre as mesmas imagens. Então me entrego ao sono, ao tédio, e começo a levitar.
Sonhando as mais perfeitas imagens e morrendo ao despertar.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mundo Além do Universo

Coisas inesperadas acontecem diariamente.

15 de Julho de 2009, estava ela conhecendo a cidadezinha, passando pelas praças a olhar o jardim de cores, observando o servidor regar as plantas a cantarolar uma velha música regional. Vagarosamente em uma caminhonete, suja, como de costume em zona rural, passaria por um cruzamento. Enxergava apenas um caminhão estacionado; sem outra visão, cruzou a rua.
Uma buzina e um estrondo. A máquina havia se chocado com outra em um segundo tão curto que não daria tempo nem para clamar a Deus. Sua preocupação voltou-se para o banco traseiro; seu irmão, havia apenas batido a cabeça no teto. Suspirou em tom de súplicas, fechou os olhos como agradecimento.
Um susto pálido os dominara. Quão efêmera é a vida e quão tolos eram diante dela!
Pôs-se a pensar e não agradou-se com que imaginara. Pensou em todas as coisas que já fizera, nas coisas que deixou de fazer, nas oportunidades, na adversidades. Pensou no mundo, nas crianças, na sociedade e culpou-se por um minuto quando pensou na herança que um dia iria deixar para a Terra.
Seus pensamentos agora a perseguiam, culpava-se por tudo ao seu redor, por achar que não estava ali, viva, e não tão perto assim de Deus. Conclui que seria melhor viver como se não existisse, como vivera daquela maneira até aquele momento. Esfregou o rosto. Estava ficando louca.
Dentro daquela ambulância o único culpado por alguma tragédia que acontecesse seria seu pensamento que estava matando-a e devorando cada pedaço de sua lembrança.
O bombeiro quebrou o silêncio com toda a sua gentilieza "Você está bem, né?!", ela consentiu balançando a cabeça. Então ele proseguiu "Você deve estar assustada, não é todo dia que se sofre um acidente. É tudo tão rápido, tudo tão estranho, depois de um temos até a sensação de ter sido ressucitado". Ambos riram, escondendo os dentes, tímidos. Nada ali se desviava da verdade. Ela resolveu falar só para desabafar um pouco ou para dividir o devaneio, "Não sei mais o que pensar sobre a vida. Uma coisa talvez simples como essa está me deixando maluca. Penso que não sirvo pra nada, além de existir. Quer castigo pior que esse?"; ele, erguendo uma sombracelha apenas e mostrando um sorriso aparentemente malicioso, com o ar de omnisciente respondeu "Depende do que você pensa que é existência e o que é a vida.". Ela entrou naquele jogo e perguntou só para testar sua suposta sabedoria, "Então tá, o que é a vida?", "Não sei, sei só que estou vivendo", disse o rapaz e ainda audacioso continuou enfrentando o ceticismo e a ironia do rosto dela "Sinto a vida em meu corpo, correndo em minhas veias desde que um acidente aconteceu, coincidentemente matando meu irmão e ferindo uma linda garotinha que devia ter lá seus doze anos de idade. Não sou mais um sobrevivente desse mundo que suga nossas esperanças, sou um vivente do meu universo, do meu próprio universo. Pensei várias vezes sobre estar só existindo, onde ninguém me reconhecia; não estava contribuindo para a sociedade, nunca havia doado um rim, nunca havia ofertado algo a quem precisasse, meu nome não estava na calçada da fama, não tinha filhos e agora nem uma família. Pensei: o que vou deixar pro mundo? Estou apenas existindo, pra depois morrer e apenas alimentar a terra? Não pode ser! O que me fez mudar de ideia foi a garota. Na ambulância ela me agradecia por ter-la socorrido, por ter salvo sua vida e dizia que ia lembrar pra sempre do meu rosto por conta disso. Senti uma imensa felicidade dentro de mim naquele momento, meus olhos brilhavam, senti a vida em mim de novo, como fui vivo quando era somente uma criança. Percebi então que não precisava ser reconhecido mundialmente, não precisava fazer algo grandioso para mudar o mundo inteiro, desde que eu modificasse o meu próprio mundo..."
"Está entregue", disse ele abrindo a porta da ambulância. O hospital estava em sua frente e ela perplexa só via a parede amarela descascada, nada mais importava agora, só a construção do mundo, do seu próprio mundo.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Feminismo: Bastidores de uma Revolução.


A Revolução Francesa ocorreu por uma sucessão de acontecimentos. Primeiramente ocorreu porque a França estava passando por uma catástrofe climática que deu origem à falta de alimentos, uma crise financeira devido aos gastos da corte com luxo e conflitos externos, a indignação do povo em relação ao absolutismo e ao pagamento de enormes impostos ao Estado. Todos esses fatores foram responsáveis por diversas revoltas entre o terceiro estado em geral e o governo, até o momento que marcaria a Revolução e a queda do Antigo Regime: a criação da Assembléia Nacional que estabeleceu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que serviria de base para a Constituição.
Essa Declaração garantia a todos os cidadãos sobretudo igualdade, liberdade, fraternidade; resistência à opressão e muitos outros benefícios que temos hoje como o habeas corpus.
Embora a Declaração garantisse esses direitos houveram várias contradições: a escravidão nas colônias francesas continuaria e as mulheres continuariam não sendo reconhecidas como parte da sociedade.
Durante a revolução, as mulheres participaram ativamente seja em lutas e protestos como a Macha de Versalhes, seja ideologicamente promovendo reuniões para a leitura de obras iluministas.
Mesmo com essa participação, o machismo ainda existia: só poderiam ser publicadas obras com pseudônimos masculinos, eram reconhecidas apenas como símbolos (Deusa da Razão, Liberdade.) e o direito ao voto só lhes foi dado pela primeira vez um século depois da Revolução em 1893 na Nova Zelândia. Além disso havia uma contradição ainda maior: o Iluminismo que pregara a igualdade e a abolição de pré-conceitos e tradições, principalmente na voz de Rosseau, tratou a mulher como dependente do intelecto masculino alegando que sua sensibilidade a faria "pecar" contra a razão. Lutando então contra o sistema e o preconceito, as mulheres francesas revolucionárias lançaram as bases para o movimento feminista. Grandes guerreiras, que por suas lutas ganharam o direito ao divórcio e o recebimento de herança, mas vale lembrar que ao divorciar-se o homem poderia casar-se de novo imediatamente e a mulher precisaria esperar dez meses. Pouco a pouco, ia se construindo uma sociedade mais favorável às mulheres.
Uma grande representante do feminismo popular da época foi Marie Olympe de Gouges, girondina altamente envolvida nas rebeliões que acabou por ser guilhotinada ao enfrentar a "supremacia masculina".
Após essas conquistas, o início da ditadura napoleônica instituiu o Código Civil que determinava os direitos de quem tinha uma propriedade. Perante o Código, a mulher deveria ser submissa ao marido. Seria então a mulher uma propriedade? Hoje em dia, diríamos que não, embora muitas mulheres às vezes são tratadas hoje como tal, como um troféu. Não antentariamos ao pudor dizendo que um ser humano é um bem material, assim como não adimitimos preconceitos inrustidos. Mas acontece que muitas vezes fomos tratados ontem, e somos hoje, dessa maneira.
Quantas Revoluções mais são precisas para conseguirmos nos livrar da submissão, da desigualdade de renda, dos esteriótipos e de conceitos estabelecidos desde o período feudal?
O que seria da Revolução então sem as mulheres? Sem as ajudantes em hospitais para atender os feridos nos conflitos, as lavadeiras para lavarem suas roupas, as cozinheiras para dar-lhes de comer, as revolucionárias que mobilizavam a nação, as mães para darem a luz aos que defendem o bem estar da nação? Nada, assim como nada seria o grande exército de Napoleão sem seus destemidos e entusiasmados soldados!

terça-feira, 30 de junho de 2009

MJ, Meet Us In Neverland.


Dia 25 de junho de 2009. O mundo parou, a internet parou, os meios de comunicação só falavam de uma coisa: a morte do Rei do Pop.
A TV repleta de homenagens, tributos que me fizeram relembrar como o mundo é hipócrita. A mesma TV que tanto o humilhou, agora o tratava como um verdadeiro rei.
Fico comovida com muitas coisas, e uma delas foi a morte de Michael Jackson. Confesso que não era sua maior fã e não estava habituada a sempre ouvir suas maravilhosas músicas, mas sempre lembrava de Michael como alguém digno de admiração. Fiquei muito triste e até chorei algumas vezes lembrando de certas coisas, de como Michael sofreu em toda sua vida.
Todos nós conhecemos sua história familiar e por mais que muitas pessoa não acreditem que a vida familiar e o mundo ao redor modificam o modo de pensar de outrém (estão sempre dizendo "tenho personalidade forte, nada influenciável!"), acredito na possibilidade. E é um com base nisso que penso sobre fatos marcantes sobre a vida de Michael.
A relação com seu pai era turbulenta: imagine seu querido pai dizer que você é feio, isso e aquilo. O que você faria? Particularmente, me sentiria péssima e provavelmente responderia agressivamente contra ele ou contra mim mesma. Muitos dizem que Michael respondeu lutando contra si, contra seu corpo. Entra aí aquela velha história do "embranquecer" de sua pele e das plásticas. Quanto ao "embranquecer" não sabemos ao certo o que houve, mas sabemos que sofria de lúpus (uma doença maluca que luta contra seu próprio corpo, podendo causar alterações nele) e vitiligo. Quanto às plásticas, se estivesse na situação dele acho que faria a mesma coisa. Não é nem um pouco legal ser criticado por sua aparência.
Esse acontecimento gerou grande polêmica e pra mim foi aí que o mundo começou a vê-lo como um monstro racista, distorcendo qualquer palavra dita de sua boca para torná-lo um preconceituoso. Chegaram até a dizer que Michael era anti-semita por causa da letra de uma música sua que diz ''me chame de judeu, me processe, todos me obrigam, me chute, me chame de judeuzinho", será que ninguém percebeu que era uma crítica ao anti-semitismo, uma denúncia?! E o que dizer sobre a mensagem do clip Black or White?!¹ Se isso não foi preconceito do público em relação à Michael, foi um problema de analfabetismo funcional...
Entrando na polêmica do abuso sexual, isso é outro mistério. Eu prefiro acreditar que ele não era um pedófilo, apenas tinha a síndrome de Peter Pan (Neverland diz tudo né?!), quando a pessoa que não teve infância a desenvolve na fase adulta. Isso explica o seu encanto por coisas infantis. Mas o que me chama a atenção em Michael é seu amor pelas crianças, ele era como uma delas. Seu sorriso sincero e sua alma doce já eram o bastante para o livrar das acusações, pelo menos pra mim; de qualquer forma não haviam provas de que ele de fato cometeu o crime. Sinceramente, acho que um acordo financeiro não compraria o prazer de sentir a justiça tratando-se de um filho...
Em sua defesa, Michael fala de algo interessante: a pureza existente no ato de amar as crianças, alega que o ativismo não deixam as pessoas demonstrarem amor por seus filhos e por isso a humanidade estava ficando doente. Não era a primeira vez que se mostrou interessado em mudar a condição do mundo.
Sobre esse fato expresso minha indignação com a mídia, em especial a televisão. Ao passo que amo a comunicação, confesso que às vezes ela é muito irresponsável e prejudicial. Com base nisso, vale lembrar que as manchetes sobre abuso sexual o envonvendo eram enormes e a notícia que dizia sobre a falta de provas bem menor... E é aí que está meu luto, não pela sua morte física, mas pela tentativa de assassinato da mídia sobre a vida dele há uns 15 anos atrás. Talvez isso explique porque Michael escondia seus filhos, para que não sofressem com a exposição também. Várias pessoas o odiaram, e odeiam, por tais acusações e mal interpretação de seus atos, mas felizmente Michael era um apaixonado pela vida e por isso estará sempre vivo, sendo um mito, um rei, dentro de nós.

¹Vale conferir: http://piero.jor.br/2008/08/12/as-mensagens-ocultas-de-black-and-white/

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Balinha Vira Moeda.

Um dia desses, nem me lembro qual, fui à cantina da escola para lanchar. O troco? Balinha 7 Belo, é claro. Ninguém se importa, mas pra quem depende das milagrosas moedinhas no fim do mês pra comprar aquela camisa faz toda a diferença.
Ao pensar nisso, lembrei-me daquela propaganda lendária, ''você paga a fábrica de balinha com balinha?'' que ilustra o costume que adiquirimos e nem percebemos.
É verdade que as moedas estão cada vez mais raras, quanto menor o valor, mais difícil de achar. Os comerciantes estão malucos atrás das benditas!
Não sei o porque até por não entender de dinheiro ou de economia e nem tenho muito interesse em conhecer, só sei que a balinha, chicletes e afins viraram uma solução alternativa pra resolução desse problema. Um exemplo são as lojas de artigos para informática onde as pessoas geralmente pagam em cheque, à vista ou dividem em duzentas mil vezes no cartão. Lá não existem os bombonierres hipnotizantes, mas as papelarias que vendem lapizeiras por cinquenta centavos estão repleta deles.
Daqui a pouco creio que as balinhas estarão populares até nos conversores de medida; de real para 7 Belo, de real para Halls; veremos a cotação da balinha na bolsa de valores...É melhor parar, já que não me arrisco a tecer comentários que envolvam economia. Uma totalmente leiga.
Respondi o Edgar, moço da cantina: ''não quero balinha''. Ele enfiou a mão no pote e trocou a 7 Belo por Freegells. Desisti, pra não parecer um tanto mão-fechada.
Acho que os únicos a ganhar com isso, além dos viciados nelas e hipoglicêmicos, são os dentistas...

sábado, 13 de junho de 2009

Nostalgia.

Todo aquele tempo bom me remete à lembrança: a água límpida e corrente banhando meus pés, as pedras sambando e acompanhando o ritmo, os pássaros mudos.
Subia ao alto de uma colina com um vestido longo de seda. O vento frio e lânguido parecia penetrar cada poro do meu corpo enquanto meus pelos levantavam-se para comprimentar aquela noite. A grama verde seguia o vento, as sementes plumosas e brancas logo desprendiam-se da flor para dançar também.
Era o senhor do tempo paralisando meus dias apenas para senti-lo; era o senhor de nenhuma sensação aparente, que dominava meu humor em um infinito silêncio.
Meus cabelos se misturavam em um negro céu, a lua refletida em minha pele me fazia a mais alva das mulheres enquanto ao cruzar meus braços sentia o toque de um veludo.
Foi o vento que me fez sentir. Ele sempre está lá, seja para espalhar a terra e traçar uma nova vênus, seja para tirar proveito da hipnose.
É como o tédio, é como a sensação de sentir nada; vazia e pura, não sabe se agrada ou irrita.
Aquela era minha valsa, eu e o vento, o senhor de tudo. Ao pular sentia-me pluma. Incrível como a sensação de não querer ou não sentir nada pode deixá-lo tão leve, tão suave.
Naquela noite poderia até voar; voei em pensamentos. Poderia tudo, desde de que tudo não fosse me despertar e me sugar para o peso do mundo real.
O tédio, o vento; hipnóticos quando contemplados em um chão sem fim e um silêncio analgésico.
Como é bom dançar no salão vazio de minha alma, deixar o vento ser meu companheiro e fazer do tédio um melhor amigo, tocar nas paredes inexistentes da minha mente e perceber a felicidade de meu grande mundo imaterial.



quinta-feira, 28 de maio de 2009

Não Vai Funcionar!

Um enorme grito rasgou sua garganta em direção aos ouvidos do mundo. Suas mãos tremiam, seus ossos quebravam, sua frequência a mesma de uma bomba.
Os versos lhe davam uma ilusão terapêutica, que se dissipava em um piscar de olhos.
Alta tensão.
O mundo girava, a garça sumia no céu, a solidão apertava, os olhos se esvaíam, as unhas cortavam as mãos em um aperto.
O riscar do lápis não se ouvia, o ousar do medo não se via, apenas um grito interno lhe faria chorar.
Acontece que ela não suportava a hipocrisia e as apostas, a injustiça e a vingança, e o não suportar lhe fazia cometer o mesmo erro com quem não merecia, lhe fazia chorar, lhe fazia calar, lhe faria uma pessoa maravilhosa. A mais linda de todas.
Os olhos piscavam, a relva do paraíso tocava, a núvem lhe engolia, seu sonho era consolidado, mas o sopro do inferno lhe destruia.
Por alguns minutos quem sabe se abateria, mas Miguel segurando sua mão dizia que o grão de trigo que cair na terra e morrer produzirá muito fruto*. Ela morreu, mas ao ressucitar do chão, a glória lhe erguia.
Rir na cara do inimigo e dizer: Não vai funcionar!
*Jesus Cristo. In: Novo Testamento. João 12, 24.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Anjo Rubro

Camila gostava de botas velhas e sujas, amava o cheiro do campo e seus cabelos desgrenhados. Era uma menina feliz, como todos diziam ser, afinal, estava sempre com um sorriso de fuligem no rosto.
Todos os dias, saía para as roças de manhã cedo para colher as frutas em seus jardins de matas. Cantarolando sempre ia, a paquerar os pássaros e sentir a aurora em seu rosto tatuado de poás rubros; subia no telhado para convidar o céu a lhe engolir. Claro, era um anjo sem asas.
Um dia qualquer, Camila caiu do telhado em cima das palhas e de um velho criado que nunca havia lhe chamado a atenção. Arrastou-se pelas telhas e calhas e as pedras que formavam o muramento da casa, ao passo que seu sangue misturava-se com a cor de seus cabelos. Percebe-se então envolta por uma corda em sua cintura. Alguém a laçara. De anjo para uma vaca, o que parecia.
Antônio berrava para toda a gente ouvir “Lacei o anjo, peguei o anjo! Agora ele é todo meu!”.
Levou-a para o estábulo e deu-lhe um vestido branco e maltrapilho de flanela, acompanhado de uma coleção de borboletas que o enfeitava. Ele mesmo preparou, como um bom sonhador. O sonho? Fazer também parte do céu, e para isso queria então torna-se uma só carne com aquele ruivo anjo, Camila.
Levou-a a freguesia da cidade, subornou o vigário e então se casou. Seu rosto reluzia refletido nas lágrimas dela e seu sorriso mal o deixava enxergar a injustiça que cometera.
Camila não era um anjo, e isso ele só descobriria à noite...
PS: Finalmente atualizei!

sábado, 16 de maio de 2009

Luto.

Hoje ocorreu um fato deprimente na quadra nove de Sobradinho, uma região administrativa de Brasília relativamente pequena onde moro. Um fato tão frio que podia ser expresso com apenas um ponto final.
Três homens baleados. Dois feridos. Um morto na frente de um bar qualquer. O motivo? Ninguém sabe ao certo; sabe como é né, as pessoas sempre aumentam um pouco a gravidade da coisa, além do fato de serem quase todos bêbados dizendo coisas do tipo “Se eu tivesse uma arma, matava a filha do cara só pra descontar”. Duas vezes deprimente.
A versão mais contada foi a de uma briga por causa de mulher, ou como disse uma testemunha, uma vagabunda. Trágico. Mais trágico ainda é saber que o homicida depois de atirar ainda atropelou a vítima.
Mais tarde, chega a mãe do homem estendido no chão coberto de sangue, clamando pela vida do seu filho inconsolavelmente.
Penso: o que faz uma pessoa matar outra? Inimagináveis fatores.
Por exemplo, estava lendo um texto de Lya Luft (A Crise que Estamos Esquecendo), hoje mesmo, onde ela retrata alguns aspectos responsáveis pela falta de respeito de alguns jovens e sobre a violência. Lya cita os maus exemplos políticos e a falta de imposição de valores e regras nas famílias como culpadas.
Mas ainda vou mais longe: a mídia tem grande poder de ser formadora de opiniões. Juntamente com os pais é preciso estabelecer uma relação com a boa educação, no plano moral, para que o jovem possa construir o seu "filtro de bem e mal". É preciso incentivar o repúdio em relação à situações como essas, pois é a normalidade e o conformismo que deixa a sociedade em estado estacionário em sua postura inerte. É preciso abrir os olhos para medidas um pouco mais eficazes e virtuosas.
Estou de luto não só pela vida deste homem, mas sim pelo futuro dessa humanidade.
PS1: O próximo post não vai ser sobre sociedade e afins. Prometo!

terça-feira, 12 de maio de 2009

O Poder da Comunicação.

Vamos pensar um pouco: quando conhecemos alguém, geralmente perguntamos logo o seu nome. Mas, de que vale o nome mesmo?
O nome, aquele que nós temos na identidade, parece não servir pra nada. Veja: se meu nome fosse Joana, deixaria eu de ser a mesma pessoa, de ter a mesma personalidade, o mesmo rosto? Teria a rosa outro aroma se não se chamasse rosa? E o amor, deixaria de ser amor por ter outro nome? É evidente que não.
Por outro lado o nome pode servir de identificação, classificação ou como uma qualidade. É o que possibilita o tão adorado processo de comunicação. Vale lembrar que a comunicação existe ainda por meio de gestos, mas o ser humano (sábio como é, ou pelo menos como parece ser), penso eu, mesmo mudo, surdo, cego ou sei lá mais o que, daria um jeito de se comunicar. É claro, somos sociáveis por natureza, pelo menos parecemos ser.
Agora pense: o mundo é tão cheio de diferentes emoções e diversas formas de expressividade, como então inventar nome pra tudo? É por isso que o nosso querido amigo Aurélio é tão grande... Mas agora concluo que se as pessoas não lêem e não têm relações interpessoais com gente boa de papo, o processo de comunicação às vezes fica vago demais. Talvez seja por isso que tantas pessoas têm dificuldade em transmitir suas emoções, opiniões e qualquer tipo de coisa por meio da escrita, e às vezes nem em um diálogo quando trata-se de algo geralmente abstrato ou complexo. É só reparar a cara dos seus colegas de classe ao tocar em uma prova de questões discursivas...
O processo de comunicação, então, mostra-se inteiramente ligado as relações sociais das pessoas, uma vez que para conversar com o presidente (a menos que ele seja um “inculto” não formado em ciências políticas, o que eu acho um absurdo!) precisa-se ao menos de um vocabulário mais amplo, conhecimento sobre o assunto discutido e poder de argumentação. Assim, torna-se difícil a interação de diversas culturas por não se identificarem, e, portanto, gerando o preconceito e a intolerância de uma em relação à outra. Para falar-se então em abolição de preconceitos em uma sociedade, é necessário antes promover a inclusão social, um dos assuntos que no Brasil, infelizmente, não parece ser tão importante.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Superficialidade de Um Ser Sociável.

Como são os sentimentos; ora maravilhosos, ora malditos. Incrível como a vida é um ciclo. A gente diz 'olá' à um estranho, nos envolvemos, amamos e depois nos decepcionamos com o ele ou o decepcionamos. Ficamos eufóricos com o desconhecido, tão interessante, tão puro. Isso até destrói a gente, pelo menos eu, que sofro antecipadamente à procura de conclusões. Quando você acha que sabe o bastante sobre aquele estranho que conheceu ontem, é aí que se engana; ele se torna mais um desconhecido de novo. É um grande ciclo inacabável. Somos seres sociáveis, precisamos nos envolver, afinal, como já diria Renato Russo "toda a dor vem do desejo de não sentirmos dor", a mais pura verdade. Não suportamos a solidão e por isso nos relacionamos e tragamos, mais uma vez, a terrível dor. Não que todos irão nos decepcionar, mas é bem possível, já que somos pessoas no mínino com alguma diferença.
Amor, encanto: um toque de navalha ou pluma.
Não só o amor ou o encanto, qualquer sentimento pode ser uma faca de dois gumes, seja o orgulho, a culpa, a incerteza. Cabe a nós administrá-los a nosso favor, mas isso infelizmente não é ensinado por aí nos cursos técnicos, nas universidades e nas escolas que enchem nossa cabeça de várias informações que às vezes são descartáeis. Aprende-se apenas vivendo.
Lamento pela vida dos jovens da nova geração por estar enfiada em um computador, televisão, bomba, funk e blusas caras que qualquer marombeiro tem no guarda-roupa (não que isso seja exclusivamente um mal). Eles vivem em uma casa de espelhos e embora seus reflexos pareçam estupendamente maravilhosos, são apenas iguais e imutáveis, aparentemente. E por quê? Eles são os mesmos seres sociáveis que se encantam com a beleza superficial, que se encantam com o estranho e têm a necessidade de assemelhar-se. Estão todos vivendo a mesma vida, e assim o mundo vira monótono, imutável e repugnante como eles. O individualismo substitui a individualidade. É um nojo saber que os "revolucionários" muitas vezes por seres apenas eles, são vomitados da inclusão social. E daí? Eles preferem muito mais amigos interessantes onde vale a pena descobrir cada detalhe de sua existência, preferem sentir a vida que construíram com um ideal do que ter mais de 500 amigos no orkut.
A ironia é: todos esses jovens dizem querer mudar o mundo, mas como mudar se eles próprios produzem um universo socialmente imutável?

PS1: Post de inauguração, então, me perdoem por possíveis erros e pelos meus textos às vezes serem meio retardados.
PS2: Não quis expressar nesse post preconceito musical ou social, apenas expresso um pensamento.
PS3: Esse post foi inspirado em um texto de um blog de um menino da minha escola (Gabriel Leite) que possivelmente nem sabe que existo.
PS4: Espero que o blog seja bastante lido e que receba vários comentários e opiniões, com críticas, principalmente construtivas. Bom, divirtam-se!