sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mundo Além do Universo

Coisas inesperadas acontecem diariamente.

15 de Julho de 2009, estava ela conhecendo a cidadezinha, passando pelas praças a olhar o jardim de cores, observando o servidor regar as plantas a cantarolar uma velha música regional. Vagarosamente em uma caminhonete, suja, como de costume em zona rural, passaria por um cruzamento. Enxergava apenas um caminhão estacionado; sem outra visão, cruzou a rua.
Uma buzina e um estrondo. A máquina havia se chocado com outra em um segundo tão curto que não daria tempo nem para clamar a Deus. Sua preocupação voltou-se para o banco traseiro; seu irmão, havia apenas batido a cabeça no teto. Suspirou em tom de súplicas, fechou os olhos como agradecimento.
Um susto pálido os dominara. Quão efêmera é a vida e quão tolos eram diante dela!
Pôs-se a pensar e não agradou-se com que imaginara. Pensou em todas as coisas que já fizera, nas coisas que deixou de fazer, nas oportunidades, na adversidades. Pensou no mundo, nas crianças, na sociedade e culpou-se por um minuto quando pensou na herança que um dia iria deixar para a Terra.
Seus pensamentos agora a perseguiam, culpava-se por tudo ao seu redor, por achar que não estava ali, viva, e não tão perto assim de Deus. Conclui que seria melhor viver como se não existisse, como vivera daquela maneira até aquele momento. Esfregou o rosto. Estava ficando louca.
Dentro daquela ambulância o único culpado por alguma tragédia que acontecesse seria seu pensamento que estava matando-a e devorando cada pedaço de sua lembrança.
O bombeiro quebrou o silêncio com toda a sua gentilieza "Você está bem, né?!", ela consentiu balançando a cabeça. Então ele proseguiu "Você deve estar assustada, não é todo dia que se sofre um acidente. É tudo tão rápido, tudo tão estranho, depois de um temos até a sensação de ter sido ressucitado". Ambos riram, escondendo os dentes, tímidos. Nada ali se desviava da verdade. Ela resolveu falar só para desabafar um pouco ou para dividir o devaneio, "Não sei mais o que pensar sobre a vida. Uma coisa talvez simples como essa está me deixando maluca. Penso que não sirvo pra nada, além de existir. Quer castigo pior que esse?"; ele, erguendo uma sombracelha apenas e mostrando um sorriso aparentemente malicioso, com o ar de omnisciente respondeu "Depende do que você pensa que é existência e o que é a vida.". Ela entrou naquele jogo e perguntou só para testar sua suposta sabedoria, "Então tá, o que é a vida?", "Não sei, sei só que estou vivendo", disse o rapaz e ainda audacioso continuou enfrentando o ceticismo e a ironia do rosto dela "Sinto a vida em meu corpo, correndo em minhas veias desde que um acidente aconteceu, coincidentemente matando meu irmão e ferindo uma linda garotinha que devia ter lá seus doze anos de idade. Não sou mais um sobrevivente desse mundo que suga nossas esperanças, sou um vivente do meu universo, do meu próprio universo. Pensei várias vezes sobre estar só existindo, onde ninguém me reconhecia; não estava contribuindo para a sociedade, nunca havia doado um rim, nunca havia ofertado algo a quem precisasse, meu nome não estava na calçada da fama, não tinha filhos e agora nem uma família. Pensei: o que vou deixar pro mundo? Estou apenas existindo, pra depois morrer e apenas alimentar a terra? Não pode ser! O que me fez mudar de ideia foi a garota. Na ambulância ela me agradecia por ter-la socorrido, por ter salvo sua vida e dizia que ia lembrar pra sempre do meu rosto por conta disso. Senti uma imensa felicidade dentro de mim naquele momento, meus olhos brilhavam, senti a vida em mim de novo, como fui vivo quando era somente uma criança. Percebi então que não precisava ser reconhecido mundialmente, não precisava fazer algo grandioso para mudar o mundo inteiro, desde que eu modificasse o meu próprio mundo..."
"Está entregue", disse ele abrindo a porta da ambulância. O hospital estava em sua frente e ela perplexa só via a parede amarela descascada, nada mais importava agora, só a construção do mundo, do seu próprio mundo.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Feminismo: Bastidores de uma Revolução.


A Revolução Francesa ocorreu por uma sucessão de acontecimentos. Primeiramente ocorreu porque a França estava passando por uma catástrofe climática que deu origem à falta de alimentos, uma crise financeira devido aos gastos da corte com luxo e conflitos externos, a indignação do povo em relação ao absolutismo e ao pagamento de enormes impostos ao Estado. Todos esses fatores foram responsáveis por diversas revoltas entre o terceiro estado em geral e o governo, até o momento que marcaria a Revolução e a queda do Antigo Regime: a criação da Assembléia Nacional que estabeleceu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que serviria de base para a Constituição.
Essa Declaração garantia a todos os cidadãos sobretudo igualdade, liberdade, fraternidade; resistência à opressão e muitos outros benefícios que temos hoje como o habeas corpus.
Embora a Declaração garantisse esses direitos houveram várias contradições: a escravidão nas colônias francesas continuaria e as mulheres continuariam não sendo reconhecidas como parte da sociedade.
Durante a revolução, as mulheres participaram ativamente seja em lutas e protestos como a Macha de Versalhes, seja ideologicamente promovendo reuniões para a leitura de obras iluministas.
Mesmo com essa participação, o machismo ainda existia: só poderiam ser publicadas obras com pseudônimos masculinos, eram reconhecidas apenas como símbolos (Deusa da Razão, Liberdade.) e o direito ao voto só lhes foi dado pela primeira vez um século depois da Revolução em 1893 na Nova Zelândia. Além disso havia uma contradição ainda maior: o Iluminismo que pregara a igualdade e a abolição de pré-conceitos e tradições, principalmente na voz de Rosseau, tratou a mulher como dependente do intelecto masculino alegando que sua sensibilidade a faria "pecar" contra a razão. Lutando então contra o sistema e o preconceito, as mulheres francesas revolucionárias lançaram as bases para o movimento feminista. Grandes guerreiras, que por suas lutas ganharam o direito ao divórcio e o recebimento de herança, mas vale lembrar que ao divorciar-se o homem poderia casar-se de novo imediatamente e a mulher precisaria esperar dez meses. Pouco a pouco, ia se construindo uma sociedade mais favorável às mulheres.
Uma grande representante do feminismo popular da época foi Marie Olympe de Gouges, girondina altamente envolvida nas rebeliões que acabou por ser guilhotinada ao enfrentar a "supremacia masculina".
Após essas conquistas, o início da ditadura napoleônica instituiu o Código Civil que determinava os direitos de quem tinha uma propriedade. Perante o Código, a mulher deveria ser submissa ao marido. Seria então a mulher uma propriedade? Hoje em dia, diríamos que não, embora muitas mulheres às vezes são tratadas hoje como tal, como um troféu. Não antentariamos ao pudor dizendo que um ser humano é um bem material, assim como não adimitimos preconceitos inrustidos. Mas acontece que muitas vezes fomos tratados ontem, e somos hoje, dessa maneira.
Quantas Revoluções mais são precisas para conseguirmos nos livrar da submissão, da desigualdade de renda, dos esteriótipos e de conceitos estabelecidos desde o período feudal?
O que seria da Revolução então sem as mulheres? Sem as ajudantes em hospitais para atender os feridos nos conflitos, as lavadeiras para lavarem suas roupas, as cozinheiras para dar-lhes de comer, as revolucionárias que mobilizavam a nação, as mães para darem a luz aos que defendem o bem estar da nação? Nada, assim como nada seria o grande exército de Napoleão sem seus destemidos e entusiasmados soldados!